Enfermagem, a filha da coragem que não abre mão da poesia

Homenagem do Observatório dos Técnicos em Saúde à essa grande força de trabalho do Sistema Único de Saúde

 

Em 12 de maio se celebra o Dia Internacional da Enfermagem. A escolha da data homenageia o nascimento de Florence Nightingale, inglesa que de forma autodidata promoveu a profissão e o cuidado da saúde a partir de sua experiência como cuidadora de feridos da Guerra da Crimeia (1854-1856).

A enfermagem, portanto, é filha da coragem e da curiosidade que leva ao estudo para a transformação de realidades desafiadoras. Esse DNA de luta e autoafirmação está presente em uma categoria que, no Brasil, é composta por cerca de 3 milhões de trabalhadoras(es), em sua maioria mulheres negras e periféricas. Essa gente corajosa e batalhadora que recentemente deu exemplo de luta organizada para obter seu piso salarial nacional, não abre mão do melhor afeto, aquele mais nobre sentimento no peito a gerar poesias, sorrisos e abraços.

É o que provam o sorriso e o abraço negros da enfermeira Yvonne Lara. Primeira mulher a conseguir fazer parte de uma ala de compositores de escola de samba - o Império Serrano –, Yvonne mostrou ser possível dar passos firmes, quiçá gigantes! -, mesmo “pisando no chão devagarinho”.

Assim deixou marcas não apenas na cultura como também na profissão homenageada esta semana, como tão bem descrito no artigo Yvonne Lara: enfermeira brasileira:    

“Formada pela antiga seção feminina da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, denominada Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto, localizado no bairro do Engenho de Dentro, [...] teve uma atuação importante na Enfermagem, tendo trabalhado e lutado ao lado de Nise da Silveira durante o movimento antimanicomial. Um de seus legados foi ter sido capaz de utilizar sua diversidade de conhecimentos e, o mais importante, sua vivência prática em prol do ethos do cuidado ao ser humano”.

Curiosa, visionária e apaixonada” são adjetivos que descrevem sua colega de profissão, a também mulher e negra Izabel dos Santos. Nascida no interior mineiro (Pirapora) em 1926, deu saltos gigantes. Foi docente de Enfermagem em Saúde Pública, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, de 1965 a 1974 e após este período trabalhou como consultora da OPAS. Sua dedicação a enfermagem se deu como precursora e criadora do Projeto Larga Escala, que nasceu de uma reivindicação de uma atendente de enfermagem e permitiu a formação de trabalhadoras que haviam sido excluídas dos bancos escolares formais. E mais tarde, após sua aposentadoria em 1997, atuando como consultora especial do Ministério da Saúde, encontrou energia para contribuir em 1999 com a criação do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE). 

Quando de seu falecimento em 2010, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio a homenageou:

“Referência obrigatória para as Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (SUS), Izabel sempre lutou em defesa de uma formação de nível médio ampla, que valorizasse a experiência do trabalhador. Durante toda sua vida, militou para tornar os profissionais de nível médio de enfermagem sujeitos capazes de trabalhar com dignidade e competência. ‘Foi uma tarefa terrível de complexa, dolorosa, demorada, ter que enfrentar toda a hegemonia estruturada, a concepção de escola, a concepção de educação. Tive que quebrar tudo isso’, disse Izabel em entrevista à Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), em 2007”.

 Yvonne e Izabel materializaram com louvor, a Enfermagem na realidade brasileira. São a tradução, em nosso povo, desta profissão como filha da coragem, da busca por qualificação, direitos e seu lugar ao Sol. E que não abre mão, com sorrisos, abraços e passos leves que são saltos gigantes, da poesia!  

 

Jornalista: Paulo Schueler