Técnicos negros da Fiocruz são retratados em mural que teve como ponto de partida obra da pesquisadora do OTS Renata Reis
Em 25 de maio de 1900, a Fundação Oswaldo Cruz surgiu com o nome de Instituto Soroterápico Federal, na então chamada Fazenda de Manguinhos, Rio de Janeiro. A eugenia predominante daquele período pode ter evitado um nome mais apropriado ao local. Negros livres, destemidos e cientes de seu valor criaram, ao lado de trabalhadores de outras etnias, o que poderia se chamar de “Quilombo”, palavra originária do idioma quimbunco, dos povos bantu, que significa “sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupo étnicos desenraizados de suas comunidades”.
Na sagrada sexta-feira das religiosidades de origem africana, os jovens guerreiros da saúde pública - técnicos negros que se fizeram fundamento da Fiocruz - finalmente receberam seu altar de memória. Agora, eles estão ancestralizados – não serão esquecidos, seus nomes farão parte de contações de estórias aos mais novos.
Na parede lateral da EPSJV Joaquim Venâncio e seus colegas Chico Trombone, Lino, Altino, José Barbosa da Cunha, Antonio Maria Filho, José de Vasconcellos, Eloy Inácio Rosas, Sebastião Patrocínio e Venâncio Bonfim estão visíveis a todas e todos que caminham pela Fiocruz. Mais que isto, seus olhares também veem os transeuntes e dialogam com os sonhos e lutas da(os) técnicos de saúde da Fundação.
Eles estão lá expostos pela força criativa do Negro Muro, a partir da obra da pesquisadora do Observatório dos Técnicos em Saúde Renata Reis A “Grande Família” do Instituto Oswaldo Cruz: a contribuição dos trabalhadores auxiliares dos cientistas no início do século XX.
Suas biografias estão disponíveis no site “Manguinhos de Muitas Memórias: histórias dos trabalhadores técnicos da Fiocruz”, e foram contadas por Renata no evento de inauguração do muro, Homenagem da EPSJV aos trabalhadores técnicos da Fiocruz. Confira como foi o evento assistindo ao vídeo abaixo.
Como afirmou Renata, "aqui nesse campus eles trabalharam, moraram, constituíram suas famílias, suas vidas, criaram seus filhos. São trabalhadores da ciência que tiveram uma atuação imprescindível nos laboratórios, nas expedições científicas, na identificação de espécimes da flora e da fauna brasileiras, na descoberta de várias doenças e seus agentes etiológicos, que desbravaram o interior do país, lá no início do século XX". A fala de Renata, que emocionou os presentes, está disponível para leitura aqui.
Como prova de que Joaquim Venâncio e seus colegas permanecem vivos, o evento contou a honra das presenças de diversas gerações da família de Joaquim, como seu filho caçula, Hugo Fernandes, de 90 anos, que foi o encarregado de cortar a fita, inaugurando os muros.
Jornalista: Paulo Schueler