
Em 25 de julho se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. A data foi criada em 1992, quando aconteceu o 1° encontro deste grupo de mulheres em Santo Domingo, República Dominicana, em que aproximadamente 300 mulheres denunciaram os problemas enfrentados e apresentaram alternativas para a solução.
A efeméride tem como objetivo reconhecer a luta e a resistência das mulheres negras na região contra o racismo, o sexismo e outras formas de discriminação, e também homenagear Tereza de Benguela, líder quilombola que se destacou na luta contra a escravidão no Brasil.
O maior grupo populacional no Brasil é de mulheres negras. Segundo o Censo Demográfico de 2022, elas são mais de 60 milhões, representando 25,8% da população total. Apesar de serem maioria, representam apenas 16% do rendimento total do país, já que são as que recebem os menores salários.
A disparidade salarial não é a única questão que dificulta a vida profissional delas. De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), 31,8% estão sem trabalhar para cuidar de filhos ou outros parentes.
O embranquecimento da área da saúde
Na história do Brasil colonial, há reconhecimento que, nesta época, as mulheres pretas e pardas eram as responsáveis por fazer as práticas de cuidado e cura. Trabalharam intensamente como parteiras, amas de leite, empregadas domésticas, babás, e outras funções relacionadas ao cuidado com o outro, principalmente em enfermos, idosos e crianças.
Porém, quando estas tarefas passaram pelo processo de profissionalização em 1860, a atuação destas mulheres foi negada devido ao racismo. Por exemplo, o ingresso na Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública em 1923, posteriormente batizada de Escola de Enfermeiras D. Anna Nery “passou a depender não só da posse do diploma do curso normal, como de um pré-requisito não formalizado: ser de raça branca”.
A enfermagem brasileira institucionalizada nasceu buscando o embranquecimento. A imagem da “enfermeira padrão” cristalizou a identidade profissional através de pessoas da elite, consequentemente, brancas, que na época era sinônimo de respeito social.
A população negra permaneceu apartada da prestação de cuidados até meados de 1930, quando a expansão dos serviços de saúde pelo governo de Getúlio Vargas absorveu contingentes de trabalhadores, possibilitando a ascensão de grupos sociais subalternizados.
Mulheres negras representam maioria na força de trabalho em saúde
Nas décadas de 1960 e 70, a proliferação de cursos profissionalizantes, voltados para as ‘populações mais pobres’ consolidou essa dinâmica de relações na área, naturalizando a ocupação de maioria negra nos postos de nível médio. Esta proliferação reverbera até hoje, já que o contingente de trabalhadores técnicos em saúde é formado em sua maioria por mulheres negras.
A Enfermagem constitui o maior contingente de profissionais dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo dados da pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), que levantou dados sobre enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, do total de profissionais pesquisados, 53% são negras.
No quantitativo de profissionais e sua distribuição por raça e escolaridade constata-se que 57,4% são trabalhadoras negras no nível médio, sob o comando de 57,9% de enfermeiras brancas. Dentro dessas trabalhadoras de nível médio, existem as auxiliares e técnicas em Enfermagem.
As auxiliares são responsáveis pelo preparo do paciente para consultas, exames, tratamentos e cirurgias. Devem observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas de acordo com a sua competência, executar os tratamentos e curativos prescritos e prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente, zelando por sua segurança.
Realizam a desinfecção e esterilização de materiais cirúrgicos, bem como cuidados diretos no pré e pós-operatório, entre outras atividades de educação em saúde; orientam os pacientes na pós-consulta e executam os trabalhos de rotina para a alta de pacientes; participam dos procedimentos no pós-morte.
Já as técnicas fazem curativos, administração de medicamentos e vacinas, nebulizações, banho de leito, verificação de sinais vitais, peso e altura, preparo de pacientes para os procedimentos de saúde, instrumentação cirúrgica, cuidados pós-morte.
Colaboram também nas comissões de certificação de serviços de saúde, tais como: núcleo de segurança do paciente, serviço de controle de infecção hospitalar, gestão da qualidade dos serviços prestados à população, gestão de riscos, comissões de ética de enfermagem, transplantes, óbitos e outros.
Apesar de serem sustentarem a enfermagem brasileira, as profissionais técnicas e negras não ocupam cargos de chefia e liderança, majoritariamente. Além disso, enfrentam a disparidade salarial e a precarização do trabalho.
Texto: Nayara Oliveira*. Imagem: Joédson Alves / Agência Brasil.
*Estagiária, sob supervisão de Paulo Schueler.