Mortalidade dos ACSs do Rio de Janeiro é pauta de seminário

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) recebeu, na sexta-feira 1º de agosto, o Seminário “Um olhar sobre o acesso à atenção à saúde e as condições de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na Atenção Primária em Saúde (APS) Carioca”.

O evento apresentou o boletim Perfil de mortalidade de agentes comunitárias e comunitários de saúde do município do Rio de Janeiro, primeiro produto da pesquisa Agentes comunitárias(os) de saúde no município do Rio de Janeiro: um olhar sobre o acesso à atenção à saúde e as condições de trabalho.

Com apoio do 1º Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Educação Profissional em Saúde (EPS) da EPSJV/Fiocruz, a pesquisa é feita em parceria com o Sindicato dos Agentes Comunitário de Saúde do Município do Rio de Janeiro (Sindacs-RJ) e conta com participação de pesquisadoras(es) do Observatório dos Técnicos em Saúde, como Márcia Valéria Morosini, Isabella Koster, Anna Violeta Durão, Gianne Reis e Marcio Candeias Marques.

O boletim destaca que o município do Rio de Janeiro registrou 216 mortes de ACSs entre 2010 e outubro de 2024, representando 42% do total de óbitos de pessoas desta categoria no Estado do Rio de Janeiro, e que os óbitos se tornaram mais expressivos a partir de 2020. Além disso, o risco de morrer para ACSs apresentou queda entre 2010 e 2016, seguido de aumento permanente a partir de 2017. No ano de 2023, por exemplo, atingiu-se alta de 54% da taxa de mortalidade, na comparação com 2017 (176,5 óbitos por 100 mil em 2017 e 271,0 óbitos por 100 mil em 2023). Na capital, a taxa de mortalidade de ACSs superou as taxas do estado e da região metropolitana em grande parte da série histórica analisada.

Além disso, entre 2010 e 2019 houve predominância da mortalidade entre homens negros (36% dos óbitos); e entre 2020 e 2024 a concentração "migrou" para as mulheres, principalmente as negras (39,8% dos óbitos). A faixa etária entre 45 e 59 anos manteve destaque nos óbitos, de 2010 até 2019 entre homens negros (14% dos óbitos) e de 2020 a 2024 entre mulheres negras (17,2% dos óbitos). Além disto, esta elevada mortalidade precoce (óbitos até 59 anos) cresceu ao longo do tempo, de 48,8% dos óbitos entre 2010 e 2014 para 58,6% entre 2015 e 2019, registrando queda para 50,5%, no último ciclo (2020 a 2024).

Nota-se a presença de óbitos entre as e os ACSs por doenças que possuem linha de cuidado na Atenção Primária à Saúde, como gripe, pneumonia, doenças hipertensivas, HIV e tuberculose, em clara sugestão de que que estes profissionais de saúde não dispõem de atendimento e cuidado adequados. Afinal, 60% das mortes de ACSs eram evitáveis.

O Seminário promoveu rodas de diálogo para ouvir os ACSs e aprofundar a realidade e os desafios da categoria, que se desdobrarão em novas entregas da pesquisa.

 

Confira a cobertura completa no site da EPSJV/Fiocruz

 

Jornalista: Paulo Schueler