
Nos dias 28 e 29 de novembro, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) recebe o "Seminário Práticas Corporais e Integrativas: saberes e poderes sobre o corpo". O evento é um produto da pesquisa “O site Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial: expansão e disseminação científica com foco no campo das Práticas Integrativas, Práticas Corporais e Atividades Físicas”.
Coordenadora geral da pesquisa, a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz Nina Soalheiro conversou com o Observatório dos Técnicos em Saúde (OTS). De acordo com ela, no "campo da saúde mental na Atenção Básica, temos técnicos que desenvolvem práticas e são fundamentais para o conjunto das atividades coletivas de acolhimento, cuidado e promoção da saúde". Confira, a seguir, a íntegra da conversa.
Qual o impacto das práticas corporais e integrativas em atenção psicossocial?
O seminário “Praticas Corporais e Integrativas: saberes e poderes sobre o corpo” é parte da continuidade do nosso trabalho de pesquisa, cujo produto principal é o site do Portfólio de Práticas, que se tornou o lócus dos nossos estudos no campo das Práticas.
No portifólio estão disponibilizadas mais de 200 experiências que envolvem uma aproximação entre conhecimentos científicos, saberes tradicionais e populares, dando visibilidade a práticas coletivas de todo o país, pensadas para o SUS e espaços comunitários.
Nesse seminário trazemos para o centro do debate as Práticas Corporais e Integrativas, considerando-as estratégicas para o campo da Atenção Psicossocial. A oferta de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), Práticas Corporais e Atividades Físicas vem aumentando progressivamente no SUS, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS), representando uma conquista no enfrentamento dos desafios apresentados por um sistema ainda predominantemente biomédico.
Nossa pesquisa investiga o campo das Práticas integrativas, Práticas Corporais e Atividades Físicas como alternativas de cuidado integral, promoção da saúde e outras possibilidades e abordagens para novas demandas que trazem para a saúde mental as questões de gênero, das desigualdades raciais e dos saberes milenares de povos originários, constituindo uma visão interseccional e decolonial.
Quais os principais resultados da pesquisa sobre este tema, em específico?
Os resultados da pesquisa evidenciam um cenário de grande vitalidade e criatividade presente nas experiências desenvolvidas na atenção básica e nos espaços comunitários, apesar dos inúmeros desafios apresentados pela recente conjuntura política adversa, além de uma formação profissional hegemonicamente biomédica.
Ainda assim, os profissionais constroem ações potentes, usando seu próprio repertório de habilidades e experiências, tornando-se importante dar visibilidade à essas práticas de atenção psicossocial que vem sendo desenvolvidas de forma criativa e inovadora em todo o Brasil.
O estudo produziu acesso a experiências nacionais em atenção psicossocial através da construção participativa e colaborativa do Portfolio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial.
O que seria a “decolonização” de práticas, como propõe o evento? E de que forma isto se relaciona com a saúde psicossocial?
Nossa pesquisa investiga o cuidado numa perspectiva interseccional, decolonial e contra colonial, em contraponto às lógicas eurocêntricas e biomédicas, e as relações de poder ainda dominantes nas formas de cuidar da sociedade contemporânea.
Esta cultura biomédica na saúde valoriza certos saberes em detrimento a outros, que se expressam por meio de práticas de cuidado que ignoram os universos social e cultural.
Pensar o cuidado requer tensionamentos entre conhecimentos científicos, saberes tradicionais e populares, construindo caminhos coletivos de enfrentamento aos sofrimentos humanos.
Já ocorreram seminários sobre outros itens da pesquisa? O que motivou a realização deste?
Especificamente desta pesquisa, é o nosso primeiro seminário. A motivação é trazer o debate contemporâneo sobre as questões que envolvem o corpo, as opressões que nele se corporificam e as práticas alternativas que podem ser ferramentas para um novo tipo de cuidado.
Quais as expectativas com o evento?
Trazemos pesquisadores e ativistas de referência nacional para debater os novos e velhos saberes que se conectam no campo da saúde coletiva e da saúde mental baseada nos Direitos Humanos, na crítica à racionalidade biomédica centrada no indivíduo, em especialismos e na medicalização do corpo e da vida.
Queremos produzir reflexões sobre os discursos e as exigências sociais que produzem, ao mesmo tempo, uma hipervalorização do corpo e sua negação como lugar de contato com o outro, de produção de afetos, prazeres e fluxos de energia criadora para reinvenção de si e da vida.
E através das práticas corporais e integrativas trazer o reconhecimento do corpo e sua potência para a saúde.
Qual deve ser o peso relativo do trabalho dos técnicos em saúde no dimensionamento adequado de políticas de atenção psicossocial?
Sabemos da importância estratégica do profissional de nível médio na equipe e no processo de trabalho em saúde. Especificamente nesse campo da saúde mental na Atenção Básica, temos técnicos que desenvolvem práticas e são fundamentais para o conjunto das atividades coletivas de acolhimento, cuidado e promoção da saúde.
Jornalista: Paulo Schueler