Pesquisadoras do OTS compõem trabalhos apresentados em seminário da EPSJV/Fiocruz

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), estação de trabalho do Observatório dos Técnicos em Saúde, promoveu nestas segunda e terça-feiras (12 e 13/05) o Seminário de seu 1º Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Educação Profissional em Saúde, que reuniu 18 projetos desenvolvidos por equipes multiprofissionais da instituição, parceiros e interlocutores.

Confira a cobertura completa no site da EPSJV/Fiocruz.

Acesse a página do programa de fomento e conheça as pesquisas selecionadas

Dos trabalhos apresentados, três projetos contam com a liderança de pesquisadoras do OTS.

"Joaquim Venâncio e os Lutz: passado e presente das relações de trabalho na Fiocruz", coordenado por Renata Reis e com parceria do Museu da Vida/Fiocruz. A pesquisa envolveu entrevistas e rodas de conversa com técnicas(os) atuantes na Fiocruz nos dias atuais, buscando compreender o quanto ainda precisam ser modificadas as relações de trabalho na instituição, de modo a valorizar o trabalho de quem não é "cientista".

"Mapeamento das(os) trabalhadoras(es) técnicas(os) que atuam na Atenção Primária à Saúde em países da América Latina", no qual a Coordenação de Cooperação Internacional da EPSJV/Fiocruz inicialmente buscou o OTS para elaborar parâmetros que respeitassem as terminologias envolvidas nas diferentes realidades da Atenção Primária à Saúde de 18 países analisados, e que na próxima etapa fará entrevistas com essas(es) trabalhadoras(es). A pesquisa tem Isabella Koster como coordenadora adjunta e Marcia Valeria Morosini na equipe de pesquisa.

A pesquisa “Agentes comunitárias(os) de saúde no município do Rio de Janeiro: um olhar sobre o acesso à atenção à saúde e as condições de trabalho" foi feita após representação sindical dos ACSs na capital fluminense (Sindacs) convocar o OTS para apoiá-los na construção de uma metodologia para captação de informações, análise e estruturação de formas de enfrentamento de um problema urgente: o aumento acelerado de mortes de ACS no RJ. O trabalho tem coordenação de Márcia Valéria Morosini, Isabella Koster na co-coordenação e participação dos integrantes do OTS Anna Violeta Durão, Gianne Reis e Márcio Marques na equipe.

As três pesquisas fizeram parte do Terceiro eixo do programa de fomento: Trabalho e Formação em Educação Profissional em saúde - distribuído no segundo dia do seminário, de forma virtual, devido à violência armada que sitiou a região da Maré, onde se localiza a EPSJV/Fiocruz. Pelo mesmo motivo, a Roda de Conversa "Condições de Trabalho de ACS no Rio" que ocorreria com a participação de representantes do Sindicato dos Agentes Comunitário de Saúde do Município do Rio de Janeiro (Sindacs) acerca da pesquisa sobre a saúde dos agentes cariocas, precisou ser cancelada.

Joaquim Venâncio, um pesquisador

Renata Reis lembrou que a pesquisa por ela coordenada olha para o passado das relações de trabalho na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para aprofundar o entendimento sobre as relações de trabalho de Joaquim Venâncio com o casal Lutz (Bertha e Adolfo). “O Joaquim Venâncio trabalhou na Fiocruz por cerca de 40 anos, com muitos pesquisadores, bastante deste tempo com Adolfo e Bertha. Fomos pesquisar documentos antigos para entender como é que essas relações se deram no passado, e conversar com os atuais técnicos de laboratórios da Fiocruz para observar o que destas relações ainda estão presentes. Para fazer isto, a gente trabalhou com o conceito de interseccionalidade, ligando classe, raça e gênero. Uma das imagens às quais tivemos acesso que choca muito, porque remete diretamente para essa coisa dos tempos da escravidão, mostra o Joaquim Venâncio carregando o Lutz nas costas”, ressaltou.

A dimensão do técnico que dá nome a EPSJV/Fiocruz como pesquisador pode ser comprovada em dossiê sobre o inventário de uma coleção biológica da Fundação. “No documento, de 1963, fica constatado que o Joaquim Venâncio foi o principal pesquisador da coleção de vertebrados, ele classificou sozinho quase 150 mostras”, citou Renata.

Quem são os técnicos em saúde na América Latina?

Coordenador da Pesquisa que avalia a utilização do campus Virtual de Saúde Pública, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), pelos trabalhadores técnicos em saúde nas Américas, Carlos Batistella comentou que o escopo do trabalho passou por atualizações que geraram o crescimento da pesquisa. Entrevista publicada neste OTS com a consultora da Opas Maria Isabel Duré demonstra isso.

Já a pesquisadora do Observatório Isabella Koster abordou as semelhanças e diferenças na caracterização dos técnicos em diferentes países. "Buscamos uma adequação da classificação das profissões", comentou, ressaltando a validade da concepção ampliada de técnicos do OTS que atuam nos distintos sistemas de saúde.

A saúde dos Agentes Comunitários no Rio de Janeiro

Marcia Valeria Morosini citou que a pesquisa sobre a saúde dos ACS do Rio de Janeiro surgiu a partir dos relatos de uma liderança da categoria, Wagner Souza. “Ele nos procurou preocupado com o adoecimento e morte das agentes de saúde, principalmente com a falta de cuidado com as agentes adoecidas na própria rede na qual estes trabalhadores atuam”, citou.

Começa então um processo de formação mútua da pesquisa, no qual pesquisadores buscam estudar o caso ao lado da representação sindical. “Essa construção conjunta da pesquisa coloca nossos lugares, diferentes, em diálogo. Aprendemos a conciliar tempos diferentes”, citou Marcia.

Foram levantados dados de mortalidade dos ACSs, para confirmar a hipótese relatada por estes trabalhadores, além de entrevistas. “Em apenas uma semana foram mais de 2.000 respondentes ao questionário”, citou Márcia, dimensionando a mobilização da categoria diante do tema.

Presente de forma online, Wagner Souza agradeceu a EPSJV pelo acolhimento, afirmando ser a escola “a casa do agente comunitário”, e relatando que “a pesquisa foi um pedido de socorro”.

“Precisamos mudar o rumo do cotidiano do agente comunitário de saúde no Rio de Janeiro, toda semana um ACS morre. Precisamos muito dessa pesquisa para evitar isso, porque o agente comunitário não é atendido de forma digna, como um cidadão”, afirmou Souza.

 

Jornalista: Paulo Schueler, com contribuição de Nayara Oliveira*

*Estagiária